O ELO realizou, no dia 3 de abril, mais uma edição da Roda de Diálogos com o tema de Sistemas de Gestão Financeira. O encontro contou com a presença do consultor Nailton Cazumbá, que conduziu as discussões em dois momentos distintos, trazendo reflexões essenciais para o fortalecimento e a sustentabilidade das organizações da sociedade civil.
A coordenadora executiva do ELO, Camila Veiga, abriu o evento dando as boas-vindas aos participantes e ressaltando a renovação do convênio com PPM. Em sua fala, destacou a importância das Rodas de Diálogos como espaços de troca segura, promovendo aprendizado e intercâmbio de boas práticas na gestão financeira das OSCs. O objetivo da Roda de Diálogo é promover um espaço de capacitação e intercâmbio entre as organizações parceiras de PPM sobre temas relacionados às atividades práticas de gestão administrativo-financeira dos projetos apoiados por PPM.
Nailton Cazumbá, abordou temas centrais sobre planejamento e controle financeiro. Segundo ele, um dos grandes desafios enfrentados pelas organizações é garantir sua sustentabilidade financeira, pois muitas vezes os recursos são insuficientes para cobrir as despesas de médio e longo prazo.
“Uma gestão financeira eficaz exige planejamento. É fundamental saber de onde vêm os recursos, quando e quanto será gasto, e como garantir que esses investimentos fortaleçam a organização no futuro”, explicou Nailton.
Outro ponto central da conversa foi a importância do controle financeiro e da geração de informações em tempo hábil. O consultor alertou que decisões estratégicas não podem depender apenas do fechamento anual das contas, pois isso pode comprometer a eficiência da gestão. Ele também destacou que a gestão financeira eficiente não depende apenas de um sistema ou ferramenta, mas sim do compromisso da organização com o planejamento, controle e transparência para a tomada de decisão.
“Tem organização que faz a gestão na mão, no Excel, ou até com sistemas robustos, mas sem um bom acompanhamento, nada disso funciona. O sistema sozinho não dá resultado, ele apenas ajuda”, reforçou Nailton.
O fluxo de caixa foi apontado como uma ferramenta essencial para o sistema financeiro das organizações, permitindo avaliar o que entra e o que sai ao longo do tempo e possibilitando um melhor planejamento das despesas futuras, incluindo encargos como férias e 13º salário, por exemplo.
Durante o debate, um participante levantou uma questão instigante: se uma organização aumenta seu patrimônio ao economizar recursos, a agência financiadora poderia interpretar isso como uma sobra e exigir a devolução dos valores não utilizados?
A reflexão gerou um debate enriquecedor sobre como equilibrar o uso responsável dos recursos sem comprometer a sustentabilidade da organização. Outra participante, trouxe uma contribuição essencial ao explicar que o aumento patrimonial da organização não vem de fundos de projetos, mas sim com atividades que resultam em geração de recursos próprios, como a venda de cursos ou consultorias pagas. Ela compartilhou a política adotada pela organização representada por ela, que direciona esses valores para uma reserva institucional, garantindo maior segurança financeira e autonomia para a organização.
Ela também levantou outra questão relevante sobre a reserva demissional no final do ciclo de um projeto. Questionando qual o tratamento adotado pela PPM para esse tipo de provisão quando a execução é feita com uma equipe permanente da organização, que não será demitida imediatamente ao término do projeto, mas que em algum momento poderá ser desligada.
“Aqui, provisionamos 5,2% da folha mensal para essa reserva, mas não imputamos esse custo diretamente à PPM porque não sabemos qual seria o tratamento adequado. A dúvida é se essa provisão deveria ser considerada apenas no mês final de encerramento do projeto”, explicou a mesma.
Sobre essa questão, Candice Araújo destacou o comprometimento do ELO com os espaços nacionais de diálogo voltados ao aprimoramento do ambiente regulatório das OSCs. Ela chamou atenção para desafios concretos enfrentados pelas organizações, como a necessidade de demitir e recontratar colaboradores a cada novo projeto, uma vez que o modelo de funcionamento por projetos dificulta a manutenção de vínculos institucionais estáveis, diante das exigências impostas pelas normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Camila Veiga também destacou o desafio enfrentado pelas organizações visto que PPM não permite esse tipo de provisionamento, o que pode gerar dificuldades para garantir os direitos trabalhistas dos profissionais envolvidos nos projetos, que são analisados caso a caso pelo parceiro.
Ao longo da conversa, ficou evidente que gestão financeira de pessoas, gestão de pessoal e a relação entre orçamento institucional e orçamento de projeto continuam sendo algumas das maiores dúvidas trazidas pelos participantes. Esses temas foram apontados como importantes pautas para as próximas edições das Rodas de Diálogos, reforçando a necessidade de aprofundar a discussão sobre esses desafios na gestão das OSCs.
Por fim, as organizações participantes compartilharam os sistemas de gestão financeira que conhecem e/ou utilizam discutindo se estão ou não integrados com a contabilidade e como realizam seus controles e diálogos internos para garantir maior eficiência e transparência na gestão financeira.
A Roda de Diálogos segue como um espaço essencial para fortalecimento institucional e qualificação da gestão financeiro-administrativa das OSCs. Até a próxima!