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PARCEIRAS DE PÃO PARA O MUNDO REFLETEM SOBRE DESIGUALDADES DIGITAIS

Tecnologia e desigualdades foi tema de uma roda de diálogo realizada pelo ELO, no contexto da parceria com a agência de cooperação para o desenvolvimento da Alemanha, Pão para o Mundo (PPM). A atividade ocorreu no último dia 16 de agosto, pela plataforma Zoom e contou com a participação de 47 pessoas, de dezesseis organizações que desenvolvem projetos com apoio de PPM no Brasil.  

Fátima Nascimento, consultora ELO

A consultora do ELO, Fátima Nascimento, ao abrir a roda de diálogo salientou que a atividade é  parte de um processo de diálogo iniciado em 2018 sobre segurança da informação (ver produtos decorrentes em www.elobrasil.org.br) e que teve continuidade com a realização de um mapeamento das organizações e agendas relacionadas a tecnologias e em 2022 com uma sondagem junto às organizações parceiras sobre a tecnologia no cotidiano das organizações.

Martina Winkler, PPM Brasil

Martina Winkler, da equipe Brasil de  PPM, reforçou que a Transformação Digital representa um dos cinco eixos estratégicos da organização alemã, e que, “Pão Para o Mundo tem como objetivo o fortalecimento da sociedade civil, engajando as parceiras na agenda das tecnologias de forma a promover as diversidades e reduzir as desigualdades digitais, intensificadas no período pandêmico por causa de um crescimento digital sem precedentes”.

A roda prosseguiu com a apresentação dos resultados da pesquisa “Tecnologias no cotidiano das organizações”, por parte de Michelle Prazeres, consultora. A sondagem foi realizada em Junho de 2022 e obteve respostas de 20 organizações parceiras de PPM. Segundo Michelle, o levantamento demonstra que as OSC têm uma visão positiva e instrumental das tecnologias, entendendo que estas ampliam a ação das organizações e são instrumentos de apoio e auxílio de tarefas.  

Michelle Prazeres, consultora

Como aspectos negativos das tecnologias, o resultado da pesquisa aponta para aquelas questões relacionadas à (in)segurança e privacidade, ao custo de aquisição e manutenção de equipamentos e a dificuldade de acesso, seja por parte das organizações, seja por parte de seu público. A consultora finalizou com algumas perguntas: precisamos mesmo de toda esta tecnologia/ De que tecnologias precisamos para dar conta de nossos objetivos estratégicos? Estamos “contaminados”pela Agenda Big Tech e qual nosso papel neste jogo de forças? As organizações da sociedade civil devem gestar uma outra visão (descolonizante e decolonial) sobre tecnologias? Como é possível fazer isso articulando a questão das tecnologias, as nossas pautas, causas, agendas e bandeiras de luta? 

Para dialogar com as questões que surgiram da sondagem, foi convidado Gilberto Vieira (data_labe) que realizou uma apresentação, provocando as pessoas presentes a refletirem sobre a questão: “Qual o papel das organizações da sociedade civil diante do cenário das desigualdades digitais?”.

 Em sua fala, Gilberto questionou a visão que temos das tecnologias, buscando compreender como podem ser mobilizadas a serviço da emancipação e da cidadania. Fez uma análise de contexto do capitalismo digital e da expansão das formas de controle por meio de dados. Ele questionou “quem somos nós neste jogo” e apresentou algumas experiências, especialmente aquelas desenvolvidas pelo data_labe, articulando tecnologia, corpo, território e linguagens.

Gilberto Vieira, Data_labe

A estratégia do data_labe está focada na territorialização e racialização dos dados, na diversidade no processamento e dados, no monitoramento de serviços públicos, na cultura de dados melhorando a cidadania e na produção de novos comuns (produções relacionadas a ideia de tecnologia e comunicação como bens comuns); e as ações do coletivo são no campo do jornalismo, da formação, da pesquisa e geração cidadã de dados e da incidência política.

 Gilberto apontou que é importante pensar nas apropriações, mas é importante pensar também nos sentidos, de forma a usar a apropriação dos dados para transformar cidadanias.

 Ele apresentou a experiências: (1) cocô zap (que articula corpo e território, para mapear e denunciar violações aos direitos sanitários nas favelas, considerando que os dados oficiais não dão conta da realidade da favela); (2) por que eu? (campanha baseada na ausência de dados sobre abordagem policial e na informação de que pessoas negras têm quatro vezes mais chance de serem abordadas pela polícia do que pessoas brancas; que usa as estruturas da internet para circular novas narrativas); (3) criptofunk (festa que articula corpo, criptografia e direitos digitais, terra, território, software e tecnologia); e (4) coalizão direitos na rede (articulação de organizações da sociedade civil para incidência política em direitos digitais).

Após a apresentação do convidado, as pessoas participantes foram organizadas em pequenos grupos para refletir sobre o cenário e as estratégias para avançar na luta das desigualdades digitais. 

Em relação ao cenário e aos desafios, as apresentações dos grupos apontaram as questões do acesso e da exclusão como barreiras para a ação em relação aos direitos digitais; demonstraram uma preocupação com a questão da segurança de dados e informações e com uma forma de agir das organizações que está muito institucionalizada. Apontaram também uma correlação de forças desigual no campo das tecnologias. “A internet nasceu para ser livre, mas ela é pública?”.

 Um desafio que se impõe é não encarar a tecnologia como uma “agenda extra” e entender a internet como bem comum, vinculado a um novo panorama regulatório (marco civil e LGPD), e a possibilidades importantes de incidência. Entender a tecnologia como direito e os direitos como indivisíveis. “É preciso construirmos processo de conexões em redes baseados na realidade do data_labe, para que cada território possa ter um laboratório de dados que permita uma troca de informações seguras e confiáveis”, relatou Rafael do KOINONIA.

A roda de diálogo está disponibilizada, na íntegra, no YouTube do ELO:   https://youtu.be/-WBnFROcF94

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