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O burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, não escolhe setor.

A saúde mental no trabalho entrou de vez na agenda nacional, e não à toa. Em 2024, mais de 472 mil pessoas no Brasil foram afastadas por transtornos psicológicos relacionados ao trabalho, o maior número da última década. O crescimento em relação a 2023 foi de 68%, e as mulheres seguem sendo as mais impactadas.

Por trás desses números, está um modelo de trabalho que ainda valoriza a produtividade acima do bem-estar. E isso não acontece só no setor privado ou nos ambientes corporativos. As organizações da sociedade civil também estão adoecendo por dentro.

Essa realidade motivou mudanças importantes na legislação trabalhista. A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que trata das disposições gerais sobre segurança e saúde no trabalho, foi atualizada pela Portaria MTE nº 1.419, de 20 de março de 2024. A nova versão inclui oficialmente a avaliação e a gestão de riscos psicossociais no ambiente laboral como obrigação das organizações. Essa atualização entra em vigor a partir de 26 de maio de 2025, e reforça que o bem-estar mental dos trabalhadores deve ser parte integrante da política de saúde e segurança no trabalho.

Muitas vezes vistas apenas como espaços de acolhimento e transformação, as OSCs também operam sob enorme pressão: prazos curtos, orçamentos apertados, metas de impacto, captação financeira constante e a carga emocional de lidar diariamente com a instabilidade e das vulnerabilidades sociais. O resultado? Gente esgotada, que se sente culpada por parar, que carrega nas costas causas urgentes sem tempo ou estrutura para cuidar de si mesma.

O burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, não escolhe setor. Ele afeta também quem está na linha de frente do cuidado, da militância, da educação, na defesa da democracia, dos direitos humanos, da assistência. Profissionais que acreditam profundamente no que fazem, mas que vivem jornadas sobrecarregadas, muitas vezes invisíveis, inclusive para os próprios financiadores.

Por isso, é urgente olhar para dentro da sociedade civil. Falar de saúde mental não pode ser apenas sobre o público atendido, mas também sobre quem faz os projetos acontecerem. Promover espaços de escuta, práticas de cuidado interno, gestão mais humana e estruturas sustentáveis é essencial para a continuidade do trabalho social com qualidade e segurança.

Cuidar de quem cuida não é um detalhe. É uma escolha política necessária para que a transformação social siga acontecendo, sem sacrificar quem a torna possível

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