Nesta terça-feira, 17 de junho de 2025, representantes de 74 organizações da sociedade civil (OSCs) de todas as regiões do Brasil participaram do webinar “Comunicação como Estratégia de Sustentabilidade das OSCs”, em um encontro marcado por reflexões urgentes, trocas inspiradoras e encaminhamentos concretos.
A abertura foi conduzida por Camila Veiga, coordenadora executiva do ELO, e Franklin Félix, Coordenador Geral da Abong. Ambos reforçaram que a comunicação não é mais um recurso acessório, mas um eixo estratégico da sustentabilidade das OSCs. Além de combater as narrativas de criminalização, a comunicação deve tornar visível a atuação das organizações, fortalecer vínculos com a sociedade e afirmar seu compromisso com o bem público.
O evento contou com a participação de quatro convidadas que trouxeram experiências e reflexões potentes:
- Dora Lia, Coordenadora de Comunicação da Abong, anunciou o relançamento da Rede Cardume, agora com foco renovado para articular comunicadoras e comunicadores das OSCs rumo à COP 30 e às eleições de 2026;
- Christiane Sampaio, da iniciativa Sociedade Viva, destacou a necessidade de criar narrativas acessíveis e propositivas sobre as OSCs;
- Cíntia Gomes, da Agência Mural, compartilhou práticas de jornalismo comunitário nas periferias e a valorização de linguagens locais;
- Yane Mendes, da Rede Tumulto, trouxe reflexões sobre parcerias genuínas e comunicação enraizada nos territórios, valorizando o conhecimento das comunidades.
O relançamento da Rede Cardume foi um dos principais marcos do encontro. Criada para fortalecer a comunicação da sociedade civil de forma colaborativa, a Rede retoma com uma agenda indicativa bem potente: um primeiro encontro nacional focado na COP30, e a criação da Casa das OSCs em Belém, espaço coletivo de atuação durante a conferência climática. Há expectativas também para um Festival Cardume, um encontro de comunicadoras das OSC. As inscrições para integrar a Rede já estão abertas, e as organizações interessadas são convidadas a se somar a essa articulação.
Entre os desafios apontados, destacou-se a necessidade de:
- Traduzir conteúdos e pesquisas para linguagens acessíveis;
- Mapear públicos e territórios para qualificar o diálogo;
- Desenvolver indicadores mais significativos de impacto;
- Antecipar-se às fake news com estratégias proativas;
- Afirmar narrativas positivas sobre as OSCs e sua contribuição ao bem comum.
- Investir também em métodos offline, como rádios comunitárias e carros de som (carro do ovo);
A reunião também encaminhou ações concretas de comunicação, como:
- Divulgação e aproximação das pessoas da campanha “ONG Faz Acontecer”, da Sociedade Viva (com revisão de linguagem e da diversidade para o uso das OSCs);
- Compartilhamento dos conteúdos apresentados durante o webinar com todas as participantes;
- Fortalecimento do monitoramento das narrativas sobre as OSCs no debate público e político;
- Apoio à estruturação da Coalizão de Mídias e à seleção de novos correspondentes da Agência Mural;
- Envolvimento das OSCs nas estratégias de comunicação para a COP 30;
- Participação ativa na reativação da Rede Cardume;
- Compromisso coletivo de pautar a comunicação nos grandes eventos nacionais e internacionais, como estratégia transversal de incidência, mobilização e sustentabilidade.
Após ampla participação do público com perguntas, exemplos e contribuições valiosas, as convidadas encerraram o encontro com mensagens inspiradoras. Em suas considerações finais, reforçaram que a comunicação das OSCs precisa ir além de informar: deve ser uma prática estratégica, moldável e enraizada nos territórios, ampliando o conceito que usamos comumente sobre territórios. Compartilharam experiências práticas de como narrativas bem construídas podem influenciar decisões de financiamento, e nos provocaram a pensar que “mobilização, comunicação e incidência formam um tripé essencial” para as OSCs hoje. Yane, nas suas considerações finais, fez com uma metáfora provocadora: “A igreja está por aí distribuindo pano de prato com Salmo. E vocês? Estão conseguindo resumir em duas linhas o que fazem para convidar as pessoas a conhecerem e apoiarem a organização de vocês?”
A mensagem que ficou é evidente: a sustentabilidade das OSCs passa pela sua capacidade de comunicar com coerência, escuta e conexão com os territórios, pensando na perspectiva de que comunicação é vínculo, é presença, é compromisso com a transformação social. Este encontro marcou mais que uma troca de experiências — foi um passo importante rumo à construção de uma comunicação mais democrática, estratégica e ancorada na potência da sociedade civil brasileira.
A equipe do ELO, PPM da Abong e das organizações participantes celebrou o sucesso da atividade, com agradecimentos especiais às convidadas e a todas as equipes de apoio — e já deixou no ar o compromisso de manter essa pauta viva no segundo semestre de 2025, com novos encontros, formações e mobilizações. Porque comunicar é existir. E existir, para as OSCs, é resistir e transformar.