A retomada das atividades do Grupo de Trabalho de Mulheres reuniu lideranças femininas de diversas regiões do país para fortalecer a agenda de equidade, participação e democracia nas organizações da sociedade civil. A reunião, que integra as entregas do projeto executado pela Plataforma MROSC com apoio do ELO, contou com a colaboração da consultora Carla Ferreira, especialista em políticas públicas, gênero e raça.
Durante o encontro, as participantes compartilharam suas trajetórias e experiências na atuação social, reafirmando a importância da presença das diversas mulheres em espaços de decisão política e institucional. Também foram discutidos os desafios ainda urgentes relacionados às desigualdades estruturais e às violências contra mulheres, incluindo o feminicídio.
A apresentação do grupo foi um momento muito forte de tecermos laços, pensarmos estratégias que nos ligam ao passado, presente e futuro, fomentado pelo belíssimo Poema Vozes – Mulheres
A voz de minha bisavó ecoou criança
nos porões do navio. ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias, debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue e fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.
(EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. 3. ed. Rio de Janeiro: Malê, 2017, p. 24-
Um dos avanços prioritários apresentados foi a construção da Política de Diversidade da Plataforma MROSC, que tem por objetivo promover ambientes organizacionais inclusivos e comprometidos com a equidade, qualificando também as relações e as práticas de governança junto às OSCs signatárias. A iniciativa está ancorada em um processo de escuta ativa, que reunirá experiências e aprendizados de diferentes territórios.
“Estamos falando de políticas, mas também de vidas. A luta das mulheres é coletiva, afetiva e cotidiana. E este GT reforça que não estamos sozinhas. Nossa força vem da diversidade. Estar à frente deste projeto e integrar o GT é reafirmar que as mulheres vêm construindo o MROSC há mais de uma década — com coragem, capacidade técnica e compromisso democrático. Nosso desafio é garantir que essa presença seja cada vez mais reconhecida e decisória.”
— Candice Araújo, assessora do ELO.
Nos últimos cinco anos, diversas iniciativas voltadas à pauta de gênero foram implementadas no âmbito da Plataforma MROSC, envolvendo 172 organizações e garantindo o protagonismo de mais de 200 mulheres em ações diretas.
A consultora Carla Ferreira destacou o compromisso do grupo com a construção conjunta desse processo:
“Estamos desenvolvendo uma política que nasce da escuta. É fundamental compreender como as relações de gênero são vividas nas organizações signatárias, para que as diretrizes da Plataforma reflitam a realidade, as demandas e as potências das mulheres que constroem o MROSC no dia a dia.”
— Carla Ferreira, consultora de gênero e raça
Com energia renovada, o GT já definiu a próxima reunião para 13 de novembro, com o intuito de ampliar o diálogo com representantes que não puderam participar desta retomada. O encontro também marcou o início do planejamento do Encontro Nacional de Mulheres, previsto para 2026, com foco no protagonismo feminino e na valorização da diversidade racial, geracional e territorial.







